O melhor investimento é comprar ações

Por fundamentos ou tendências, fatores absolutos ou por comparação, o melhor investimento adiante é comprar ações de boas empresas brasileiras

Ao contrário do que se esperava a princípio, no pós-pandemia a atividade da economia não retornará de forma homogênea numa data fixa e trará descompassos importantes de um setor para outro. Enquanto isso, no mundo econômico-financeiro, a raiz de um novo dilema já começou a brotar, sobre como tudo irá funcionar a partir da posição “ilhada em alto mar” que os bancos centrais acabaram assumindo nos últimos anos. E agora, com a liquidez repentinamente casada com o endividamento soberano, podendo também sofrer com correntezas que antes não os atingiam.

Ainda que a ciência traga logo as soluções para esta pandemia, a compreensão da vulnerabilidade humana terá vindo para ficar. A percepção de risco ficou mais presente, com a sua essência virtuosa de também potencializar a captura de oportunidades, o que nos leva de volta a dois pilares da sabedoria secular, na vida e nos investimentos: 1º) focar no essencial; e 2º) diversificar com noção adequada de prazos.

Quanto aos investimentos, três certezas também já indicam um ponto de convergência:

Endividamento público

Os Tesouros nacionais estarão como nunca atolados em dívidas, diante de economias debilitadas que não terão como suportar aumento de carga tributária. Esse processo tende a restringir a capacidade de resposta da administração pública no mundo;

O espaço ampliado (mas seletivo) para o setor privado

A crescente insatisfação com a classe política no mundo será reforçada pela dificuldade financeira no entorno dos governos, em sua incapacidade de investir no que a população precisa. Isso abrirá espaço sem precedentes – financeiro e político – para o setor privado. Mas a iniciativa privada terá que demonstrar eficiência financeira e capacidade de canalizar capital para financiar projetos e operações. E atrair recursos será uma tarefa que exigirá muito mais do que projeção de retorno financeiro atraente, pois agora incluirá, como nunca antes, um alinhamento consistente de prioridades com as pautas atualizadas da sociedade e dos detentores primários de capital.

A inovação tecnológica é essencial, mas integrada com a escala e a geração de caixa

Não teremos mais o ambiente de liquidez abundante que vinha irrigando as células independentes de inovação e as tecnologias candidatas a um papel transformador. Na nova fase, sem tanta oferta de caixa, apesar dos juros baixos, o cenário induzirá a integração construtiva entre as empresas estabelecidas, com seus processos de crescimento ou consolidação, e as novas células de inovação.

Com essas três “certezas” em fase final de cristalização, um investidor buscando proteção ou retornos diferenciados, seja mais conservador ou propenso ao risco, tenderá a encontrar um ponto nítido e quase único de harmonia: comprar ações de boas empresas!

E no novo normal, boas empresas são aquelas que, além de lucrativas, mostrem-se capazes de ficar longe das turbulências financeiras governamentais, em segmentos que atendam demandas estáveis ou crescentes, e que saibam aliar a eficiência trazida pela escala, com o crescimento e a inovação pelas novas tecnologias.

Existem, nesse sentido, 15 a 20 setores já apontando caminhos mais saudáveis do que outros tantos.

Uma reavaliação fundamentalista de risco e retorno também reforçará a direção das ações, pois:

  • na renda fixa, o mercado secundário de títulos corporativos ainda é incipiente e as empresas estarão com risco de crédito maior. Os títulos públicos trarão seu novo paradoxo com o salto no risco (pelo maior endividamento público), com a redução no prêmio por esse risco (com os juros mais baixos).
  • nos imóveis, com a demanda imobiliária ainda confusa, a volatilidade tende a ficar acima da média histórica e os retornos, afetados pela atividade econômica irregular.

E assim, dos fundos com ações mais líquidas e empresas mais desenvolvidas para os fundos longos, e dos fundos longos para os “FIPs-entidade de investimento” (private equity), a sequência vai da maior para a menor volatilidade e da maior para a menor liquidez – num potencial consistente de retornos. Por fundamentos ou tendências, fatores absolutos ou por comparação, o melhor investimento adiante é comprar ações de boas empresas brasileiras. Ou no jargão financeiro: “equity é o nome do jogo”!

Por Álvaro Gonçalves 12/06/2020.