Gestora Stratus aposta em média empresa e listagem em bolsa

Enquanto a economia brasileira encolheu por três anos e cresceu pouco nos últimos dois, as empresas do portfólio da gestora de private equity Stratus tiveram crescimento, em média, de 39% ao ano. A Stratus opera num mercado ainda pouco disputado por gestores e que costuma ser menos sedutor aos olhos dos investidores: o das médias empresas. E, em sua estratégia, coloca essas companhias na vitrine do mercado de capitais.

“Há um universo de companhias crescendo, mesmo enquanto o Brasil encolhia”, afirma Álvaro Gonçalves, sócio e diretor-executivo da Stratus. A gestora montou uma carteira com sete empresas, adquiridas com US$ 160 milhões captados com investidores. A gestora concluiu a formação do portfólio de seu segundo fundo e prepara a captação do terceiro, no segundo semestre.

O faturamento das sete companhias da carteira passou de R$ 750 milhões para R$ 2,5 bilhões em quatro anos e o número de funcionários foi de 7,5 mil para 17,9 mil. “É uma amostra de como é crescimento orgânico e por aquisições, e não por corte de custos e apertando as empresas”, diz. A meta é um crescimento do portfólio de 20% este ano, chegando a um faturamento somado de R$ 3 bilhões.

Cerca de 80% dos investidores dos fundos da Stratus são estrangeiros, que chegaram a ficar desconfiados do desempenho da carteira em meio à recessão brasileira. Nas reuniões anuais da gestora com investidores, os cotistas pediam esclarecimentos adicionais aos auditores. “Eles queriam mais detalhes dos números”, diverte-se Gonçalves.

Elas foram escolhidas justamente em meio à recessão brasileira. Segundo o gestor, isso não tornou os investimentos mais demorados, mas foi mais trabalhoso. “Além de mais cuidado em avaliar as perspectivas para aquele setor, precisávamos medir também se haveria reflexos posteriores da crise.”

Outra estratégia incomum adotada pela Stratus é listar todas as suas companhias no segmento Bovespa Mais, da B3. Gonçalves é o “rei do Bovespa Mais”, nas palavras de alguns gestores do mercado, considerado o executivo que mais se engajou na proposta da bolsa de valores brasileira para atrair empresas pequenas e médias.

“As empresas e gestores têm uma imagem de que é caro ser listado. É caro para a empresa desorganizada, que não tem balanço trimestral e auditoria”, diz. “Mas para a empresa organizada, é literalmente de graça, já que a B3 e a CVM isentam as empresas do Bovespa Mais de taxas.” A escolha pelo Bovespa Mais se dá justamente por ser o único segmento da B3 em que é possível se listar sem ter que fazer uma oferta.

A rede de cinemas Cinesystem, a companhia de terceirização de frotas Maestro e a empresa de call center Flex já são listadas no Bovespa Mais. A empresa de logística BBM já pediu registro à B3 e à CVM e deve ser listada até fevereiro. Segundo Gonçalves, até o fim do ano que vem todas estarão listadas, incluindo a rede de academias Just Fit, a de alimentos DGH e a de farmácias Poupafarma.

“Até o fim de 2020, ao menos duas companhias terão passado o patamar de R$ 1 bilhão em receita”, diz o gestor. A primeira delas deve ser a BBM Logística.

Ao menos duas empresas devem seguir o caminho para uma oferta pública de ações (IPO). “A ideia é capitalizar para crescimento, não necessariamente para nossa saída”, diz o gestor. Essa foi a estratégia da Stratus na Senior Solution (hoje rebatizada de Sinqia). A empresa já era listada no Bovespa Mais há quase um ano quando fez seu IPO, em 2013, buscando mais capital para crescer. A Stratus vendeu sua participação dois anos depois, para a HIX Capital.

No primeiro fundo da Stratus, que durou de 2003 a 2012, o retorno foi de quatro vezes em dólares para os investidores. O terceiro fundo deve ser iniciado no segundo semestre, com volume da ordem de US$ 200 milhões.

Fonte: https://www.valor.com.br/financas/6085199/gestora-stratus-aposta-em-media-empresa-e-listagem-em-bolsa